24/01/2022 às 11h36min - Atualizada em 24/01/2022 às 11h36min

Aimorés completa 1 ano sem "Geni Doida"

Geni Garcia Bento, faleceu ano passado em decorrencia da Covid-19

Christian Lenk De Souza
Ivan Ruela/Reprodução Redes Sociais
Hoje (24) Aimorés completa um ano sem uma de suas moradoras mais ilustres: Geni Garcia Bento, conhecida popularmente como "Geni Doida". Parte da história não escrita de Aimorés, "Geni Doida" era conhecida por todos e figura tradicional das ruas e comércios de Aimorés.

Geni andava por Aimorés pedindo a todos um "Café" com sua caneca em punho, várias malas e bolsas e também geralmente cachorros que a companhavam. Com o passar dos anos criou-se um mito em volta de Geni,quase místico, de que ela tacava pedras nas pessoas e com o tempo moradores assim contavam para seus filhos, perpertuando um medo nas crianças com a presença de Geni, alguns inclusive diziam que iriam chamar a Geni se os filhos não se comportasem. Verdade é que não existem relatos que comprovem que Geni de fato tacava pedras nas pessoas, sendo essa uma das lendas urbanas mais famosas de Aimorés.

Em 2019, Geni foi morar no Asilo de Aimorés, onde infelizmente faleceu no começo de 2020, vítima do coronavírus.

Personagem emblemática de Aimorés, Geni dá nome a um Poema escrito por Ivan Ruela, que retrata as mudanças que Aimorés teve com o tempo, remetendo ao fato de que em uma cidade em contante transformação a Geni se manteve como uma lena de geração em geração. Confira a transcrição do Poema, de 2017:


Geni, Lenda e nostalgia

(Por Ivan Ruela)

 
Um restaurante vira igreja, estradas de terra transformam-se em asfalto, que em alguns pontos, substitui também antigas ruas de paralelepípedo.

Campos de futebol convertem em pastos, e vice versa. Uma Capela, passa a ser uma biblioteca, e depois um auditório de uma Faculdade, que antes era uma escola estadual. E que, lá nos primórdios, era u colégio particular de irmãs carmelitas.

Casas novas surgem, em terrenos baldios. Moradas antigas são demolidas, dando lugar a pontos comerciais.

Os moradores da localidade enriquecem, empobrecem, emagrecem, engordam, migram, voltam, casam, constituem famílias, criam filhos, adoecem, morrem.

Até o rio da pacata cidade muda seu leito, em prol do tal "Desenvolvimento".

A famosa pedra  – cartão postal – permanece intacta, porém com a vegetação ao seu redor, além do rio, bastante alterados.

Festas tradicionais foram extintas, os clubes não são mais os mesmo, com boas evoluções em algumas vertentes, péssimas mudanças em outras.

O relógio da praça, também tradicional, modificado um pouco por algumas reformas, está ali, estático, só seus ponteiros que não. Indicam que horas, dias, meses, anos, Voam!

O tempo não para!



Em suas redes sociais, Ivan também deixa um depoimento sobre a Geni:

 

"Tem uma velhinha no meu portão
É a Geni Doida , que taca pedra !
Ela está com os punhos fechados
As mãos devem estar cheias de pedras ! "

Seria essa minha reação, caso estivéssemos lá no fim dos anos 80, início e meados dos 90.
Voltemos à realidade:
2017.
Geni carrega pedaços de pães, nos cerrados punhos calejados.
No meu portão, ela alimenta Pitty, minha cachorra. Não pede nada, além dos ouvidos para uns desabafos.

Marginalizada, foi muito mais apedrejada do que arremessadora.
É a maior contadora de histórias da cidade, sem necessariamente narrá-las. O simples fato do encontro com ela nos remete a muito do que vivemos, quando ela sempre estava por perto, andarilhando.

De presença tão forte quanto dos sinos de igrejas e cantos de canários.

Ela se despede. Segue pela rua, alimentando cães abandonados.

Seu coração nunca foi de pedra.

Ivan Ruela - Facebook - 09 de outubro de 2017


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